A CRISTIADA E OS MÁRTIRES DO MÉXICO – PARTE 2 de 4

VOCAÇÃO DE JESUS!
Deus seja amado com todas as forças de nosso coração e de nossa alma.

15/11/2022

Para ler a parte 01, clique aqui:
A CRISTIADA E OS MÁRTIRES DO MÉXICO – PARTE 1 de 4 – Vocação de Jesus

A BRUTAL PERSEGUIÇÃO DO GENERAL PLUTARCO ELÍAS CALLES (1924-1929)

Reformando o Código Penal, a Lei Calles, de 1926, de autoria do cruel general:

  • “expulsa os sacerdotes estrangeiros;
  • penaliza com multas e prisões os que deem ensino religioso, ou estabeleçam escolas primárias, ou se vistam como clérigo ou religioso, ou se reúnam de novo, tendo sido retirados do claustro, ou induzam à vida religiosa, ou realizem atos de culto fora dos templos…”

Repetindo a estupidez dos tempos de Juárez, também agora, a partir de uma Secretaria do governo callista, faz-se a ridícula tentativa de criar uma Igreja cismática mexicana, desta vez em torno de um precário Patriarca Pérez, que finalmente morreu em comunhão com a Igreja.

Os governadores dos diversos Estados rivalizam em zelo persecutório*, e então o de Tabasco, general Garrido Canabal, um déspota corporativista, ao estilo mussoliniano, e mulherengo, exige dos sacerdotes que se casem, se quiserem exercer seu ministério (Meyer I, 356). 

(*Persecutório = que persegue)

Em Chiapas, uma Lei de Prevenção Social “contra loucos, degenerados, toxicômanos, ébrios e vagabundos” dispõe:

“Poderão ser considerados pessoas de má vida e submetidos a medidas de segurança, tais como:

  • reclusão em sanatórios,
  • prisões,
  • trabalhos forçados etc:
    • os mendigos profissionais,
    • as prostitutas,
    • os Sacerdotes que exerçam sem autorização legal do governo,
    • as pessoas que celebrem atos religiosos,
    • ou ensinem dogmas (católicos) religiosos às crianças,
    • os homossexuais,
    • os fabricantes e vendedores de fetiches e estampas religiosas (estátuas, quadros, imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora ou qualquer santo católico)
    • assim como os vendedores de livros, folhetos ou qualquer impresso com que se pretenda inculcar preconceitos religiosos.” (+ Rivero del Val 27).

CESSAÇÃO DO CULTO (31-7-1926)

Os bispos mexicanos, em uma enérgica Carta pastoral (25-7-1926), protestam, unânimes, manifestando sua decisão de trabalhar para que “esse Decreto e os Artigos anti-religiosos da Constituição sejam reformados. E não cessaremos até o ter conseguido”.

O presidente Calles responde friamente:

“Nós nos temos limitado a fazer cumprir as [leis] que existem, uma desde o tempo da reforma, há mais de meio século, e outra desde 1917… Naturalmente que meu Governo não pensa sequer em suavizar as reformas e acréscimos ao código penal”.

Desrespeito ao sagrado

Era esta a tolerância dos liberais ante o “fanatismo” dos católicos. (Com ironia) Eles pediam aos católicos somente que obedecessem às leis (risadas).

Poucos dias depois, em 31 de julho, sem prévia consulta à Santa Sé, o Episcopado ordena a suspensão do culto público em toda a República. Imediatamente, doze bispos, entre eles o Arcebispo do México, são tirados de suas sedes, e expulsos do país sem julgamento prévio.

É de supor que os callistas haviam acolhido a suspensão dos cultos religiosos com frieza, e até com uma certa satisfação. ELES NÃO ESPERAVAM, COMO TAMPOUCO A MAIORIA DOS BISPOS, A REAÇÃO DO POVO CRISTÃO, ao ficar privado:

  • privarem-se da eucaristia;
  • privarem-se dos sacramentos;
  • verem os altares sem mantel;
  • verem os sacrários vazios, com a portinhola aberta.

O cristero Cecilio Valtierra narra aquela experiência com a eloquência ingênua do povo:

“Fechou-se o templo,
o sacrário ficou deserto, ficou vazio,
já não está Deus ali, foi ser hóspede de quem gostaria de dar-lhe pousada, já temendo ser prejudicado pelo governo; já não se ouviu o badalar dos sinos que chamam o pecador à oração.
Só nos restava um consolo: estava a porta do templo aberta, e os fiéis, de tarde, rezavam o Rosário e choravam suas culpas.
O povo estava de luto, acabara-se a alegria, já não havia bem-estar nem tranquilidade, o coração se sentia oprimido, e, para completar, o governo proibiu as reuniões nas ruas: até o comum, ou seja, uma pessoa ficar em pé diante de outra, era um delito grave”.

LEVANTAMENTO DOS CRISTEROS (AGOSTO 1926)

Já em meados de agosto, por ocasião do assassinato:

  • do padre de Chalchihuites
  • e de três leigos católicos com ele,

levanta-se o primeiro foco do movimento armado.

Em Jalisco, Huejuquilla, em 29 de agosto, o povo insurreto dá o grito de fidelidade: 

VIVA CRISTO REI!!!

Entre agosto e dezembro de 1926, produziram-se 64 levantamentos armados, espontâneos, isolados, a maior parte em:

  • Jalisco,
  • Guanajuato,
  • Guerreiro,
  • Michoacán,
  • Zacatecas.

Aqueles a quem o Governo, por zombaria, chamava cristeros NÃO TINHAM ARMAS NO INÍCIO, a não ser um machete ou, na melhor das hipóteses, uma escopeta; depois as foram conseguindo dos soldados federais, os juanes callistas, nas guerrilhas e ataques de surpresa.

Sempre foi problema para os cristeros o provimento de munições. Na realidade, “não tinham outra fonte de munições senão o exército, do qual as tomavam ou compravam” (Meyer I, 210)…

Em Aranas, um povoado de Los Altos, segundo refere J. J. Hernández, afluíam de todas as propriedades rurais novos contingentes, “alguns armando-se até com roçadeiras, machados, e, nas propriedades onde sabiam haver armas, iam pedi-las…

Dá pena ver esta gente; uns, além de trazer armas ruins, traziam umas garras de huaraches [sandálias], os chapéus rasgados, rotos, as roupas todas remendadas, outros iam a pêlo no cavalo, alguns não traziam nem freio, enquanto outros seguiam simplesmente a pé”. (+ Meyer I,133).

À frente do movimento, para dar-lhe unidade de plano e de ação, pôs-se a Liga Nacional Defensora de la Libertad Religiosa, fundada em março de 1925, com o fim que seu nome expressa, e que havia se estendido, em pouco tempo, por toda a república.

O levantamento vem assim expresso na carta de um cristero, camponês como quase todos o eram, Francisco Campos, de Santiago Batacora, em Durango:

“No dia 31 de Julho de 1926, alguns homens fizeram com que Nosso Senhor se ausentasse de seus templos, de seus altares, dos lugares dos católicos, mas outros homens fizeram com que voltasse outra vez; estes homens NÃO VIRAM que o governo tinha muitos soldados, muito armamento e muito dinheiro para fazer-lhes a guerra; isto eles não viram,

O QUE VIRAM FOI DEFENDER SEU DEUS,
SUA RELIGIÃO,
SUA MÃE, QUE É A SANTA IGREJA,
ISTO É O QUE ELES VIRAM.

A estes homens não importou:
deixar suas casas,
seus pais,
seus filhos,
suas esposas
e tudo o que possuíam;
foram aos campos de batalha procurar Deus Nosso Senhor.

Os rios,
as montanhas,
os montes,
as colinas são as testemunhas de que estes homens falaram a Deus Nosso Senhor com o Santo Nome de VIVA CRISTO REI, Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe, Viva o México.

Os mesmos lugares são o testemunho de que aqueles homens regaram o solo com seu sangue e, não contentes com isto, deram até suas vidas para que Deus Nosso Senhor voltasse de novo.

VENDO DEUS NOSSO SENHOR QUE AQUELES HOMENS REALMENTE O PROCURAVAM, dignou-se vir outra vez a seus templos, a seus altares, aos lugares dos católicos como estamos vendo agora, e RECOMENDOU AOS JOVENS DE HOJE QUE, SE NO FUTURO APARECER NOVAMENTE O PROBLEMA, não se esqueçam do exemplo que nos deixaram nossos antepassados” (Meyer I,93).

APROVAÇÕES ECLESIÁSTICAS DA LUTA ARMADA

Mas, antes de fazer a crônica desta guerra de mártires, temos de nos deter a analisar com cuidado, pois a questão é muito grave, a atitude da hierarquia eclesiástica contemporânea com relação aos cristeros. Prestemos atenção às datas.

18 de outubro de 1926

Em Roma, Pio XI recebe uma Comissão de Bispos mexicanos, que lhe informa da situação de perseguição e de resistência armada.

Poucos dias depois, tendo-se dirigido ao Cardeal Gasparri a questão de se os prelados podiam dispor dos bens da Igreja para a defesa armada, responde que “ele, o secretário de Estado de Sua Santidade, se fosse Bispo mexicano, venderia suas alfaias para o caso.” (Ríus 138).

18 de novembro de 1926

Um mês depois, o Papa publica a encíclica Iniquis afflictisque, em que denuncia as agressões sofridas pela Igreja no México:

Já quase não resta liberdade alguma à Igreja [no México], e o exercício do ministério sagrado se vê de tal maneira impedido, que é castigado, como se fosse um delito capital, com penas severíssimas”.

O Papa elogia com entusiasmo a Liga Nacional Defensora de la Libertad Religiosa, espalhada “por toda a República, na qual seus membros trabalham concorde e assiduamente com o fim de ordenar e instruir a todos os católicos, para opor aos adversários uma frente única e solidíssima”.

Comove-se ante o heroísmo dos católicos mexicanos:

“Alguns destes adolescentes, destes jovens — como conter as lágrimas ao pensá-lo — foram lançados à morte com o rosário na mão, ao grito de VIVA CRISTO REI! Inenarrável espetáculo que se oferece ao mundo, aos anjos e aos homens”.

30 de novembro de 1926

Os dirigentes da Liga Nacional, antes de assumirem efetivamente a direção do movimento cristero, quiseram assegurar-se do apoio do Episcopado; e, para isto, dirigiram aos bispos um Memorial, em que solicitavam:

  1. “Uma ação negativa, que consista em não condenar o movimento;
  2.  Uma ação positiva, que consista:
    1. em sustentar a unidade de ação, pela uniformidade de um mesmo plano e um mesmo comandante;
    2. em formar a consciência coletiva, por meios que estejam ao alcance do Episcopado, no sentido de que:

·   SE TRATA DE UMA AÇÃO LÍCITA,
·  LOUVÁVEL,
·   MERITÓRIA E DE LEGÍTIMA DEFESA ARMADA;

  1. em habilitar canonicamente párocos residentes…;
  2. em organizar e patrocinar uma campanha, desenvolvida energicamente, entre os católicos ricos, para que forneçam fundos destinados à luta, e para que, pelo menos uma vez na vida, compreendam a obrigação que têm de contribuir.”

Em 30 de novembro os chefes da Liga são recebidos por Monsenhor Ruiz y Flores e por Monsenhor Díaz y Barreto. O primeiro comunica-lhe alegremente que, “como de costume, se saíram bem”; que, estudadas as propostas pelos bispos reunidos na Comissão:

“os diversos pontos do Memorial tinham sido aprovados por unanimidade”, menos os dois últimos, o dos párocos residentes e o dos ricos, não convenientes ou irrealizáveis.

15 de janeiro de 1927 – SOBRE A LICITUDE DAS ARMAS

O Comitê Episcopal, respondendo a algumas declarações incriminadoras do Chefe do Estado-Maior callista, afirma que o Episcopado é alheio ao levantamento armado; mas declara ao mesmo tempo “que há circunstâncias na vida dos povos em que é lícito aos cidadãos defender pelas armas os direitos legítimos que em vão procuraram salvar por meios pacíficos”; e faz recordar a todos os meios pacíficos utilizados pelos bispos e pelo povo, e desprezados pelo Governo.

“Foi assim que os prelados da hierarquia católica deram sua PLENA APROVAÇÃO AOS CATÓLICOS mexicanos para exercer seu direito à DEFESA ARMADA, que a Santa Sé prognosticou que ocorreria, como único caminho que lhes restava para não ter de sujeitar-se à tirania anti-religiosa”. (Ríus 135)

16 de janeiro de 1927 – BISPO TRAIDOR ELOGIA DITADOR E SE POSICIONA CONTRA OS CRISTEROS

No começo de 1927, chegam a Roma notícias da imprensa nas quais se comunica que o Monsenhor Pascual Díaz y Barreto, jesuíta, bispo de Tabasco, que havia sido desterrado do México, em diversas declarações feitas no exílio se mostra reservado quanto aos cristeros:

“Como bispo e como cidadão reprova Díaz a Revolução, qualquer que seja sua causa.” (Lpz. Beltrán 108).

RESPOSTAS DOS BISPOS AO TOLO OU PERVERSO BISPO AMIGO DO DITADOR

Imediatamente, em 16 de janeiro, a Comissão de bispos mexicanos envia uma dura carta a Monsenhor Díaz y Barreto, então residente em Nova Iorque, lamentando com profunda tristeza suas declarações públicas feitas

“contra os generosos defensores da liberdade religiosa e algumas favoráveis ao perseguidor, Calles”.

Os combatentes “dão o sangue e a vida para cumprir um santo dever, o de conquistar a liberdade da Igreja”. Ante o abuso gravemente injusto do poder, “existe o direito de resistir e defender-se, já que, tendo sido vãos todos os meios pacíficos postos em prática, é justo e devido recorrer à resistência e à defesa armada”.

Recordam-lhe também os bispos que este “é o sentir da maioria de nossos irmãos [bispos] do México”, e também o “dos Padres da Companhia, não somente no México, mas na Europa, e especialmente aqui em Roma”.

A propósito lhe citam as declarações feitas alguns dias antes (03-02-1927) pelo famoso moralista da Gregoriana, padre Vermeersch, jesuíta:

“Fazem muito mal aqueles que, crendo defender a doutrina cristã, desaprovam os movimentos armados dos católicos mexicanos. Para a defesa da moral cristã não é necessário valer-se de FALSAS DOUTRINAS PACIFISTAS. Os católicos mexicanos estão valendo-se de um direito e cumprindo um dever”.

Pouco depois, chega um cabograma com a resposta de Monsenhor Díaz y Barreto:

“Autorizo honorável Comissão negar aquilo que se assegura dito por mim, contrário o determinado por todos nós, aprovado, Bendito Santa Sé. Autorizo honorável Comissão publicar este cabograma, se conveniente.” (Lpz. Beltrán 109-110).

22 de fevereiro de 1927

Em Roma, o presidente da Comissão de Bispos mexicanos declara à imprensa:

“FAZEM BEM OU MAL OS CATÓLICOS RECORRENDO ÀS ARMAS?

Até agora não havíamos querido falar, para não precipitar os acontecimentos. Mas, uma vez que Calles mesmo empurra os cidadãos à defesa armada, devemos dizer: os católicos do México, como todo ser humano, gozam em toda a sua amplitude o direito natural e inalienável de legítima defesa” (107).

Pio XI bendiz o grito: VIVA CRISTO REI!

17 de maio de 1927.

Anos antes dos acontecimentos de que nos ocupamos, em 1914, São Pio X, a pedido dos bispos mexicanos, tinha autorizado, como “um projeto que nos é indizivelmente agradável”:

  • consagrar a Cristo Rei a República do México,
  • pôr a coroa real nas imagens do Sagrado Coração de Jesus,
  • pondo também um cetro em sua mão, para assim significar sua realeza.

A CONSAGRAÇÃO DO MÉXICO A CRISTO REI, coisa aparentemente impossível —semelhantemente à realizada por García Moreno no Equador em 1873 — pôde, todavia, realizar-se, aproveitando a vênia do general Victoriano Huerta, presidente (1913-1914), índio puro de Jalisco, que era católico.

Foi então, em 6 de fevereiro de 1914, durante o soleníssimo ato realizado na Catedral, em presença de todas as primeiras autoridades religiosas e civis da nação, que pela primeira vez no México o povo cristão alçou o grito: VIVA CRISTO REI!

Pois bem, no começo da Cristiada, com a data de 17 de maio de 1927, enviam-se aos bispos mexicanos algumas respostas e licenças chegadas de Roma. E no documento se lê:

“Outro rescripto que recebemos concede aos que estão no México:

indulgência plenária in articulo mortis, se:

confessados e comungados, ou pelo menos contritos, pronunciem com os lábios, ou ao menos com o coração, a jaculatória “Viva Cristo Rei!”, aceitando a morte como enviada pelo Senhor em castigo de nossas culpas”.

Jean Meyer nega a existência deste insólito documento (II, 344-345), mas, posteriormente, López Beltrán reproduziu sua fotografia na obra já citada.

2 de outubro de 1927

O Cardeal Gasparri, secretário de Estado, em algumas declarações ao The New York Times (2-10-1927), conta os horrores da perseguição sofrida no México pela Igreja, e denuncia o silêncio das nações, ao “tolerar tão selvagem perseguição em pleno século XX”.

RESERVAS QUANTO AO MOVIMENTO ARMADO

À medida que passavam os meses, as reticências da Igreja para apoiar os cristeros cresciam, até em Roma. Recordemos que a doutrina tradicional da Igreja reconhece a licitude da rebelião armada contra as autoridades civis com certas condições:

  • causa muito grave;
  • esgotamento dos meios pacíficos;
  • que a violência empregada não produza maiores males que os que pretende remediar;
  • que exista probabilidade de êxito. (+ Pio XI, Firmissimam constantiam 1937: Dz 3775-76)

Pois bem, a perseguição de Calles preenchia claramente as duas primeiras condições. Mas alguns bispos tinham dúvidas quanto a se a terceira se preenchia, pois já havia muito tempo que o povo estava sem sacramentos nem sacerdotes, e a guerra produzia mais e mais mortes e violências. E ainda eram mais numerosos os que criam muito improvável a vitória dos cristeros. Não faltaram até alguns poucos bispos que chegaram a ameaçar de excomunhão quem partisse com os cristeros ou os ajudasse.

Aprovaram a rebelião armada os bispos:
Manríquez y Zárate,
González y Valencia,
Lara y Torres,
Mora y del Río.

E estiveram muito próximos dos cristeros o bispo de:
Colima,
Velasco
e o arcebispo de Guadalajara, Orozco y Jiménez, 
os quais, com grave risco, permaneceram ocultos em suas dioceses, assistindo seu povo.

Reprovaram-na em maior ou menor medida outros tantos, entre os quais:
Ruiz y Flores,
Pascual Díaz,
que sempre viu a Cristiada como “um sacrifício estéril”, condenado ao fracasso. E os demais permaneceram indecisos.

Pois bem, sendo discutíveis as condições terceira e quarta, há que evitar todo o juízo histórico cruel, que reparta entre aqueles bispos os qualificativos de:
fiéis ou infiéis,
valentes ou covardes.

Em todo o caso, é evidente que a falta de apoio mais claro de seus bispos foi sempre para os cristeros o maior sofrimento…

18 de janeiro de 1928

Por fim, em meados de dezembro de 1927, o arcebispo Pietro Fumasoni Biondi, Delegado Apostólico nos Estados Unidos e encarregado de negócios da Delegação Apostólica no México, transmite a Monsenhor Díaz y Barreto, Secretário do Comitê Episcopal, a quem o mesmo Monsenhor Fumasoni havia nomeado Intermediário Oficial entre ele e os bispos mexicanos, a disposição do Papa segundo a qual “os bispos não apenas devem abster-se de apoiar a ação armada, mas também devem permanecer fora e acima de todo o partido político”. Norma que Monsenhor Díaz comunicou a todos os prelados (18-1-1928) (Meyer I,18; Lpz. Beltrán 111, 150-52)…

LANÇARAM-SE AO CAMPO, “PARA BUSCAR A DEUS”

Agosto de 1926. Muitos camponeses, da zona central do México sobretudo, lançam-se ao monte, como Francisco Campos, “para buscar a Deus Nosso Senhor”.

Em Cocula (Jalisco), desde 1º de agosto a igreja estava guardada noite e dia por 100 mulheres no interior e 150 homens no átrio e no campanário. Os cinco bairros de Cocula se revezavam em turnos, e a cada alarme se dava um sinal. Então todos acudiam imediatamente, como conta Porfiria Morales.

No dia 5 de agosto tocou o sino quando ela estava na cozinha; sua criada, María, exclamou: Ave Maria Puríssima! Tirou o avental, tomou seu manto e um pedaço de pau, e, quando ela lhe perguntou aonde ia, respondeu-lhe:

“‘Que pergunta de minha senhora! Não ouve o sino que chama os católicos da União Popular? Em primeiro lugar as coisas de Deus!’ E saiu deixando as panelas no fogo”. (Meyer I,103).

Não se poderá apreciar suficientemente o valor das mulheres católicas mexicanas na Cristiada:

  • distribuindo propaganda,
  • levando avisos,
  • acolhendo perseguidos,
  • cuidando de feridos,
  • ajudando clandestinamente o provimento de alimentos e armas.

As Brigadas Femininas:

  • de Santa Joana d’Arc,
  • as Brigadas Bonitas,

escreveram histórias de lenda… Mas, enfim, a guerra é coisa de homens, e a ela foram vigorosos camponeses. Ezequiel Mendoza Barragán, um fazendeiro de Coalcomán, em Michoacán, cuja voz patriarcal iremos escutar em outras ocasiões, assim o conta:

   “Centenas de pessoas assinaram os papéis, e eles foram enviados a Calles e a seus sequazes, mas tudo foi inútil…

   Os Calles se julgaram muito poderosos e nos oprimiram ainda mais, matando gente e confiscando bens particulares dos católicos.

   Eu, ignorante, mas com brio, ao saber dos novos procedimentos de tal governo, me exaltei e me armei de disposição, estes eram meus sentimentos, fui conquistar gente armada e disposta à guerra em defesa da liberdade de Deus e dos próximos.” (Testimonio 17)


Continua na PARTE 3, semana que vem, se Deus quiser!

Oremos!

Deus Pai, Deus filho e Deus Espírito Santo!

Infundi em nossas almas o poderoso e eterno amor, a fé invencível, a confiança inabalável em Vós, para que, se um dia tivermos de provar nosso amor a Vós pela glória do martírio, estejamos cheios de alegria por nos achardes dignos de morrermos por amor a Vós.
Amém.

. . .

Deus, que é bom, misericordioso e poderoso, abençoe-nos a todos.
J.V.

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