Brevidade da vida
Retirado do livro: “PREPARAÇÃO PARA UMA BOA MORTE” (Santo Afonso de Ligório)
Quae est vita vestra? Vapor est ad modicum. – “Que é vossa vida? É vapor que aparece por um instante.” (Tg 4, 14)
PONTO I
Que é nossa vida? Assemelha-se a um tênue vapor que o ar dispersa e desaparece completamente. Todos sabemos que temos de morrer. Muitos, porém, se iludem, imaginando a morte tão afastada que jamais houvesse de chegar. Jó, entretanto, nos adverte que a vida humana é brevíssima:
“O homem, vivendo breve tempo, brota como flor e murcha” (Jó 14, 1-2)
Foi esta mesma verdade que Isaías anunciou por ordem do Senhor:
“Clama – disse-lhe – que toda a carne é erva… verdadeira erva é o povo; seca a erva e cai a flor” (Is 40, 6-8)
A vida humana é, pois, semelhante à de uma planta. Chega a morte, seca a erva; acaba a vida e murcha, cai a flor das grandezas e dos bens terrenos.
A morte corre ao nosso encontro mais rápido que um corredor. E nós, a cada instante, corremos para ela (Jo 9, 25). A cada passo, a cada respiração chegamos mais perto da morte.
“Este momento em que escrevo – disse São Jerônimo – faz-me caminhar para a morte.”
“Todos temos de morrer, e nós deslizamos como a água sobre a terra, a qual não volta para trás” (2 Sm 14, 14)
Vê como corre o regato para o mar; suas águas não retrocedem; assim, meu irmão, passam teus dias e cada vez mais te acercas da morte. Prazeres, divertimentos, faustos, lisonjas e honras, tudo passa. E o que fica?
“Só me resta o sepulcro.” (Jó 17, 1)
Seremos lançados numa cova e, ali, entregues à podridão, privados de tudo. No hora da morte, a lembrança de todos os gozos que em vida desfrutamos e bem assim das honras adquiridas só servirá para aumentar nossa mágoa e nossa desconfiança de obter a salvação eterna. Dentro em breve, o pobre mundano terá que dizer: minha casa, meus jardins, aqueles vestuários já não serão para mim! “Só me resta o sepulcro“.
Ah! Com que dor profunda há de olhar para os bens terrestres aquele que os amou apaixonadamente! Mas essa mágoa já não valerá senão para aumentar o perigo em que se acha a salvação. A experiência nos tem provado que tais pessoas, apegadas ao mundo, mesmo no leito da morte, só querem que se lhes fale de sua enfermidade, dos médicos que se possam consultar, dos remédios que os aliviem. Mas, logo que se trata da alma, enfadam-se e pedem descansar, porque lhes dói a cabeça e não podem ouvir conversação. Se, por acaso, respondem, é confusamente e sem saberem o que dizem. Muitas vezes, o confessor lhes dá a absolvição, não porque os acha bem preparados, mas porque já não há tempo a perder. Assim costumam morrer aqueles que pensam pouco na morte.
AFETOS E SÚPLICAS
PONTO II
Exclama o rei Ezequias:
“Minha vida foi cortada como por tecelão. Quando ainda estava urdindo, ele me cortou.” (Is 38, 12)
Quantas pessoas andam preocupadas a tecer a teia de sua vida, ordenando e combinando com arte seus mundanos desígnios, quando os surpreende a morte e rompe tudo! Ao pálido resplendor da última luz todas as coisas deste mundo se obscurecem: aplausos, prazeres, pompas e grandezas.
Grande segredo o da morte! Sabe mostrar-nos o que não veem os amantes do mundo. As mais cobiçadas fortunas, os postos mais elevados, os triunfos mais estupendos perdem todo o seu esplendor considerados à vista do leito mortuário. Convertem-se então em indignação contra nossa própria loucura as ideias que tínhamos formado de certa felicidade ilusória. A sombra negra da morte cobre e obscurece até as dignidades régias.
Durante a vida, nossas paixões nos apresentam os bens do mundo de modo mui diferente do que são. A morte, porém, lhes tira o véu e os mostra na sua realidade: fumo, logo, vaidade e miséria. Meu Deus, para que servem depois da morte riquezas, domínio e reinos, quando, ao morrer, temos apenas necessidade de um ataúde de madeira e de uma mortalha para cobrir o corpo? Para que servem honras, se apenas nos darão um cortejo fúnebre ou pomposas exéquias, que de nada nos aproveitarão se a alma está perdida?
Para que serve formosura do corpo, se não restam mais que vermes, podridão espantosa e, pouco depois, pó infecto? Ele me reduziu a ser como a fábula do povo, e sou ludibrio diante deles (Jó 17, 6). Morre um ricaço, um governador, um capitão, e por toda parte sua morte será apregoada. Mas, viveu mal, virá a ser censurado pelo povo, exemplo da vaidade do mundo e da justiça divina, e escarmento para muitos. Na cova será confundido com os cadáveres dos pobres.
“Grandes e pequenos ali estão.” (Jó 3, 19)
De que lhe serviu a galhardia do seu corpo, se agora não passa de um montão de vermes? De que valeu a autoridade que possuía, se agora seus restos mortais estão condenados a apodrecer numa vala e a sua alma arrojada nas chamas do inferno? Oh! Que desdita ser para os demais objeto de semelhantes reflexões, e não as haver feito em benefício próprio! Persuadamo-nos, portanto, que, para remediar as desordens da consciência, não é apropriado o tempo da morte, mas sim o da vida.
Apressemo-nos a pôr mãos à obra naquilo que então não poderemos fazer. tudo passa e fenece depressa (1Cor 7, 29). Procuremos agir de modo que tudo nos sirva para conquistar a vida eterna.
AFETOS E SÚPLICAS
PONTO III
Que grande loucura expor-se ao perigo de uma morte infeliz e começar com ela uma eternidade desditosa, por causa dos breves e miseráveis deleites desta vida tão curta! Oh, quanta importância tem esse último suspiro, esta última cena! Vale uma eternidade de gozos ou de tormentos. Vale uma vida sempre feliz ou sempre desgraçada. Consideremos que Jesus Cristo quis morrer vítima de tanta amargura e ignomínia para nos obter morte venturosa. Com este fito nos dirige tantas vezes seu convite, dá-nos suas luzes, nos admoesta e ameaça, tudo para que procuremos concluir a hora derradeira na graça e na amizade de Deus.
Até um pagão, Antístenes, a quem perguntaram qual era a maior dita deste mundo, respondeu que era uma boa morte. Que dirá, pois, um cristão, a quem a luz da fé ensina que nesse momento começa a eternidade e se toma uma dos dois caminhos, o do eterno sofrimento ou o da eterna alegria? Se numa bolsa metessem dois bilhetes: um com a palavra inferno, outro com a palavra glória, e tivesses que tirar à sorte um deles para seguir imediatamente ao lugar indicado, que precaução não tomarias para tirar o que desse entrada para o céu? Os desgraçados, condenados a jogar a vida, como tremem ao estender a mão para lançar os dados, dos quais depende sua vida ou morte.
Com que espanto te verás próximo desse momento solene em que poderás dizer a ti mesmo: Deste momento depende minha vida ou minha morte eterna! Decide-se agora se hei de ser eternamente feliz ou desesperado para sempre. Refere São Bernardino de Sena que certo príncipe, ao expirar, dizia atemorizado: Eu, que tantas terras e palácios possuo neste mundo, não sei, se morrer esta noite, que mansão irei habitar!
Se crês, meu irmão, que hás de morrer, que existe eternidade, que se morre só uma vez, e que, dado este passo em falso, o erro é irreparável para sempre e sem esperança de remédio: por que não te decides, desde o momento em que isto lês, a praticar quanto puderes para te assegurar uma boa morte? Era a tremer que Santo André Avelino dizia: Quem sabe a sorte que me estará reservada na outra vida: salvar-me-ei?
Tremia um São Luís Beltrão de tal maneira que, em muitas noites, não lograva conciliar o sono, acabrunhado pelo pensamento que lhe dizia: Quem sabe se te condenarás?
E tu, meu irmão, que de tantos pecados és culpado, não tremes? Apressa-te em tomar o remédio oportuno; decide entregar-te inteiramente a Deus, e começa, desde já, uma vida que não te aflija, mas proporcione consolo na hora da morte.
Dedica-te à oração; frequenta os sacramentos, evita as ocasiões perigosas e, se tanto for preciso, abandona o mundo para assegurar tua salvação, persuadido de que, quando esta se trata, não há confiança que baste.
AFETOS E SÚPLICAS
NOVENA PELAS ALMAS DO PURGARTÓRIO
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Bendito seja Deus!
Que grande riqueza, esclarecimento, misericórdia e alerta é essa leitura, e que ao mesmo tempo nos leva a meditar e suplicar o que necessitamos e o que nossa alma deseja dizer e receber de Deus.
Essa vida logo passa e o quantos somos ainda apegados, vaidosos, orgulhosos e presunçosos, louvado seja Deus pela Igreja Católicas e os santos que em suas vidas de renúncia e busca de Deus, nos dão grandes ensinamentos e exemplos de como devemos seguir a nossa peregrinação rumo ao Céu.