A origem e o significado da Árvore de Natal
Um dos mais famosos símbolos do período natalino é a Árvore de Natal, o famoso pinheirinho cercado de bolas coloridas, luzes, velas, anjos, laços e, no topo, uma estrela! Essa decoração que ornamenta as casas, e muitos outros lugares e, muitas vezes, é a mais chamativa nas principais praças das grandes cidades, carrega em si um grande significado cristão. Entenderemos melhor sobre isso conhecendo a história do surgimento dessa tradição:
No século VII, o Império Romano no Ocidente não mais existia, havia se fragmentado e as disputas por território se multiplicavam. O trabalho missionário dos evangelizadores cristãos de anunciar a Boa Nova do Evangelho tornara-se bem mais árduo, mesmo assim prosseguiam decididamente cheios de amor a Deus e às almas, aventurando-se por regiões inóspitas levando consigo a palavra da Salvação a todos os povos de todas as línguas.
Foi então nesse contexto que um monge beneditino, São Wilfrido de York movido pelo Espírito Santo parte em missão para a região do sul da Saxônia, no território onde atualmente corresponde à Bélgica. Essas terras haviam sido recentemente invadidas por povos do norte que trouxeram seus antigos costumes pagãos, intrinsecamente ligados ao culto à natureza.
Na tentativa de convertê-los, São Wilfrido deparou-se com um grande obstáculo: o culto ao carvalho, uma árvore muito comum nesta região. Eles acreditavam que essas árvores eram possuídas por espíritos, pois se conservavam verdes mesmo durante o inverno, e por isso realizavam diversos rituais ao redor das gigantescas árvores para que esses espíritos trouxessem de volta a primavera e o verão. O santo monge então resolveu reunir todos os frisões (que era como eles eram conhecidos) ao redor de um daqueles velhos e gigantescos carvalhos com o intuito de cortá-los diante deles. Ao acertar os primeiros golpes, uma grande tempestade despencou sobre eles, deixando todos apavorados. O santo pediu aos lenhadores que continuassem até que a árvore caiu por terra sendo atingida no mesmo instante por um raio que a deixou carbonizada.
Bem próximo do local de sua queda, no entanto, algo surpreendente: um pinheirinho permaneceu intacto em meio a toda destruição. Era o dia 25 de Dezembro. E São Wilfrido logo percebeu nisso um sinal de que Deus protege a fragilidade e a inocência. E começou a pregar para todo aquele povo, que observava atônito a tudo que acontecera, relacionando a imagem da pequena árvore com o Nascimento do Menino Jesus e afirmou que o pinheirinho seria dali por diante o símbolo da paz e candura, porque Deus o havia poupado. Disse também que essa árvore que sempre se conservava verde, mesmo no inverno mais rigoroso, pode também ser considerada como um dos símbolos da imortalidade.
Ele repetiu esse sermão nos Natais seguintes e a história se espalhou, servindo de grande inspiração para outros missionários que enfrentavam problemas semelhantes nas regiões onde evangelizavam. Um deles foi justamente São Bonifácio, o grande Apóstolo da Alemanha que irá combater ainda mais ferozmente o paganismo nórdico.
Por volta do ano 723, São Bonifácio dirige-se a uma comunidade pagã na Alemanha que, no inverno, realizava rituais de sacrifícios humanos ao deus Thor. Geralmente eram crianças que eram perfuradas, queimadas ou mortas a marteladas junto a árvore sagrada deles, chamada de “carvalho do trovão” ou “carvalho de odin”. Eles acreditavam que se não o fizessem, Thor enviaria um raio que cairia sobre eles.
São Bonifácio chegou no vilarejo na noite do solstício de inverno, data que coincide com a nossa Véspera de Natal, bem a tempo de impedir mais assassinatos abomináveis de crianças indefesas e, aproximando-se das pessoas que já estavam reunidas em torno do carvalho do trovão, levantou o seu báculo de bispo e declarou:
“Eis o carvalho do trovão e eis a Cruz de Cristo, que romperá o martelo do Thor, o falso deus!”
Mesmo diante da coragem do santo bispo, os adoradores de thor iniciaram o ritual e já levantavam o martelo para golpear a criança que seria sacrificada, até que foram surpreendidos. São Bonifácio estendeu o seu cajado para frear o golpe do pesado martelo de pedra que imediatamente se despedaçou. O santo voltou-se novamente para o povo e disse:
“Escutai, filhos do bosque! Não jorrará sangue esta noite. Porque esta é a noite em que nasceu o Cristo, o Filho do Altíssimo, o Salvador da humanidade.”
E citando os deuses nórdicos bem conhecidos por aquele povo, afirmou que, desde a vinda do Salvador, não era mais necessário nenhum outro sacrifício humano e completou:
“A escuridão, esse thor, a quem invocaste em vão, é a morte. No profundo das sombras ele se perdeu para sempre. A partir de agora, vós começareis a viver. Esta árvore sangrenta nunca mais escurecerá a vossa terra. Em nome de Deus, eu a destruirei.”
São Bonifácio então pegou um machado e antes de dar o primeiro golpe, uma rajada de vento derrubou a árvore pelas raízes a deixando em quatro pedaços. O povo ficou então estarrecido, pois acreditavam que o bispo seria fulminado por um raio vingador de thor, porém nada aconteceu. Ele ordenou que a madeira fosse separada para a construção de uma capela em honra a São Pedro e continuou o seu discurso agora dirigindo-se para uma outra árvore que havia ali próximo: um pequeno pinheiro. E disse:
“Esta arvorezinha, este pequeno filho do bosque, será nesta noite a vossa árvore santa. Esta é a madeira da paz; é o sinal de uma vida sem fim, porque as suas folhas são sempre verdes. Olhai a sua ponta voltada ao céu. Esta será a árvore do Menino Jesus! Reuni-vos em torno dela, não mais no bosque selvagem, mas dentro dos vossos lares; ali haverá abrigo e não ações sangrentas; ali haverá presentes amorosos e gestos de bondade.”
Assim, São Bonifácio tornou-se um dos maiores responsáveis pela conversão dos povos germânicos, pela eliminação dos sacrifícios humanos naquela região e pelo início dessa linda tradição que continua até os nossos dias: o costume de decorar nossos lares com uma árvore que celebre a nova vida trazida pelo nascimento de Cristo Jesus!
Assim, o símbolo da árvore, amplamente utilizado na pregação cristã, serviu para substituir a idolatria que estava entranhada na cultura do povo germânico, introduzindo novos significados, alicerçados na Palavra de Deus.
Logo no livro do Gênesis, a humanidade é apresentada a duas árvores: a árvore da vida, e a árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Diante da árvore de natal, relembremos que estamos sempre diante de uma escolha, da qual resultarão bons ou maus resultados para nossa vida eterna.
O próprio Jesus se utiliza da figura da árvore para nos transmitir sua mensagem, como quando ele diz que ele é a videira verdadeira, da qual nós somos os ramos. Assim como encontramos em Jo 15, 4-5.
“Permanecei em mim. Como o ramo não pode dar frutos se não permanece na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim, não podeis dar frutos. Eu sou a videira, vós os ramos. Aquele que permanece em mim, não pode dar frutos. Eu sou a videira, vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer”
E é somente unidos a Ele que podemos produzir os frutos de amor e paz. Esses frutos são simbolizados pelas bolas luminosas e resplandecentes que colocamos para enfeitar a árvore de Natal.
Por fim, não podemos separar a manjedoura do calvário. No meio das doces e suaves alegrias do natal, há também a sombra da árvore da cruz. Nesse madeiro, do qual pendeu a salvação do mundo, realizou-se o grande e definitivo sacrifício, único e perfeito, através do qual fomos salvos. Através do qual, as portas do paraíso se abrem para nós.
Assim o profundo significado do natal torna-se mais próximo com a figura da árvore, a qual, transpondo as fronteiras da Alemanha, logo tornou-se comum entre a nobreza europeia, alcançando as cortes até mesmo da distante Rússia. Dos palácios, difundiu-se pelo povo, sendo hoje esse costume já difundido em todos os países.
No centro da Igreja, na Praça de São Pedro no Vaticano, todos os anos é erguida, ao lado do presépio, uma grande árvore de natal, perante a qual São João Paulo II declarou em Dezembro de 2004:
“A festa do Natal, talvez a mais querida à tradição popular, é extremamente rica de símbolos, ligados às diferentes culturas. Entre todos, o mais importante é, sem dúvida, o presépio […] Ao lado do presépio, como nesta Praça de São Pedro, encontramos a tradicional “árvore de Natal”. Também esta é uma antiga tradição, que exalta o valor da vida porque na estação invernal, a árvore sempre verde se torna um sinal da vida que não perece. Geralmente, na árvore adornada e aos pés da mesma são colocados os dons de Natal. Assim, o símbolo torna-se eloquente também em sentido tipicamente cristão: evoca à mente a “árvore da vida”, figura de Cristo, supremo dom de Deus à humanidade.”
(São João Paulo II)
Assim, o sentido da árvore que nos lembra da árvore da vida que é nada mais, nada menos do que a figura do próprio Cristo, o supremo dom de Deus, o maior de todos os presentes dado a toda humanidade!
Aos pés da árvore, os presentes. Mas eis que o grande e verdadeiro presente nós já recebemos. O próprio Cristo que se dá a nós! Que grande dom! Que grande graça! Que grande honra!
Recebamos portanto, cheios de um grande e profundo amor esse presente! Jesus Cristo que não se apresenta de forma ostensiva, mas como uma criança indefesa. Não de forma opulenta, mas na simplicidade da manjedoura. Que não nos obriga a amá-Lo, mas nos dá todos os motivos para que O amemos! Que, por fim, nos espera pacientemente atrás de outro madeiro. Não mais o madeiro da cruz, mas o madeiro da porta. Quantas e quantas portas se fecharam para Jesus que esperava para nascer, ainda no seio da Virgem Maria. Quantas e quantas portas ainda hoje se fecham para Jesus que quer nascer em nossos corações!
Que toda a simbologia do natal nos ajude a meditar com maior clareza e profundidade na real presença de Jesus Cristo que se encarnou, viveu nessa terra, morreu e foi sepultado, ressuscitou e subiu aos céus. Para que, compreendendo, amemos ainda mais.
Que essa meditação possa gerar em nós um profundo e intenso amor e que assim não só abramos as portas do nosso coração para que Jesus entre, nasça e aí faça morada. Mas que, ao tê-Lo dentro de nós, tranquemos novamente essa porta para que Ele jamais saia!