5. É feliz coincidência encetarmos nosso livro dedicado às virgens no dia natalício duma virgem. É o natal duma virgem, imitemos a pureza. É o natal de uma mártir, imolemos vítimas. É o natal de Inês, admirem-se os varões, não desanimem os jovens, pasmem as esposas, imitem-na as virgens.
Mas, como louvaremos aquela cujo nome encerra um elogio? O devotamento excedeu-lhe a idade, a virtude sobrepujou-lhe a natureza de tal modo que me quer parecer recebesse não um nome humano, mas anúncio do martírio futuro.
6. Tenho, porém, donde tirar explicação. O nome da virgem designa pudor. Chamá-la-ei mártir, proclamá-la-ei virgem. Suficientemente expressivo é o louvor que se não procura, mas que se possui. Desmaiem-se os talentos, cale-se a eloquência que uma só palavra é o elogio bastante. Cantem-lhe louvores os anciãos, os jovens e as crianças. Só é condignamente louvável quem por todos pode ser louvado. Quantos forem os homens, tantos serão os elogios à mártir.
7. Refere-se que Inês foi martirizada aos 12 anos. Abominável crueldade que não poupou idade tão tenra e grande valor o da fé atestada por tal idade. Havia onde ferir corpo tão tenro? Entretanto, aquela que não tinha onde receber ferida da espada soube por onde vencer o gládio. Nesta idade, as crianças não suportam o semblante carregado dos pais, e costumam chorar com as picadas de agulha como se fora incisão. Impávida entre as mãos cruentas dos algozes, imóvel no meio do tanger das pesadas cadeias, entrega todo o seu corpo à espada de furioso soldado; ignora o que seja morrer e já está pronta para fazê-lo.
Arrastam-na, constrangida, aos altares, mas, elevando os braços para Cristo, no meio das chamas, ostenta dentro das labaredas sacrílegas o troféu do Senhor vitorioso. Oferece pescoço e mãos às algemas; não as havia, porém, que ligassem membros tão pequenos.
8. Nova espécie de martírio? Ainda não amadurecida para o suplício e já o era para a vitória: luta desigual, mas triunfo fácil, ensina fortaleza aquela a quem idade não dava direitos. A cabeça adornada da beleza de Cristo e não de cabelos trabalhados, coroada não de flores, mas de virtudes, a virgem caminha animosa para o lugar do suplício, tão prestes para as núpcias, não correria a esposa. Todos choram, exceto a virgem.
Admiram-se que sacrifique, tão pródiga, uma vida ainda não vivida, como se já tivesse chegado ao termo. Maravilham-se dê testemunho da divindade quem, pela idade, não era senhora de si mesma.
Finalmente fez com que se atribuísse a Deus o que não podia ser realizado por homens. Aquilo que ultrapassa a natureza compete ao autor da natureza.
9. Quanto pavor incutiu o algoz para intimidá-la, quanta promessa para dissuadi-la. Quantos anelaram desposá-la? Ela, porém, replica: “é ofender o Esposo fazê-lo esperar pela amada que lhe agrada. Receber-me-á Aquele que, primeiro, me escolheu. Por que tardas, algoz? Pereça o corpo amado de olhos que aborreço“. A virgem firmou-se sobre os pés, orou e, em seguida, dobrou a cabeça sobre o cepo. O algoz, porém, começa a hesitar como se ele próprio tivesse sido ferido; treme-lhe a mão, empalidecem-lhe as faces à vista do perigo alheio; a virgem, entretanto, nada teme.
Numa hóstia dois martírios: o da castidade e o da religião. Permaneceu virgem e coroou-se mártir.
Lindo testemunho. Tão pequena. Que Deus me dê a graça de evangelizar minhas filhas a ponto de também serem capazes de dar suas vidas por amor a Deus 🙏
Lindo testemunho de fé. Santa Inês, rogai por nós!