Reflexão de São João Paulo II sobre o Tríduo Pascal
Louvado seja o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo!
“Aconselho-te a oração mental e com o coração, particularmente sobre a Vida e a Paixão de Nosso Salvador. Se as contemplares com frequência na meditação, encherás a tua alma, aprenderás a Sua modéstia e modelarás as tuas ações pelo modelo das Suas. Ele é a Luz do mundo; e n’Ele, por Ele e para Ele devemos ser instruídos e iluminados”. (São Francisco de Sales). E com este pensamento mergulhado em Deus e em Seus mistérios, devemos viver bem o Tríduo Pascal que se aproxima, para que, com uma Semana Santa vivida de fato em santidade, o nosso coração possa encontrar a pureza necessária para nos unirmos às dores de Jesus.
Estas são palavras de São João Paulo II sobre o Tríduo Pascal:

“Caríssimos Irmãos e Irmãs, preparamo-nos para reviver nos próximos dias o grande mistério da nossa salvação. Amanhã de manhã, Quinta-Feira Santa, em todas as comunidades diocesanas, o Bispo celebra juntamente com o seu presbitério a Missa Crismal, na qual são abençoados os óleos o dos catecúmenos, o dos doentes e o santo Crisma. À noite faz-se memória da Última Ceia com a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. O rito do “lava-pés” recorda que, com este gesto realizado por Jesus no Cenáculo, Ele antecipou o Sacrifício do Calvário, e deixou-nos como nova lei, “mandatum novum”, o seu amor. Segundo uma tradição piedosa, depois dos ritos da Missa em Cena Domini, os fiéis detêm-se em adoração diante da Eucaristia durante a noite. É uma vigília de oração singular, que se relaciona com a agonia de Cristo no Getsêmani.
Na Sexta-Feira Santa a Igreja celebra a paixão e morte do Senhor. A assembleia cristã é convidada a meditar sobre o mal e sobre o pecado que oprimem a humanidade e sobre a salvação realizada com o sacrifício redentor de Cristo. A Palavra de Deus e alguns ritos litúrgicos sugestivos, como a adoração da Cruz, ajudam a percorrer as várias etapas da Paixão. Além disso, a tradição cristã deu vida, neste dia, a várias manifestações de piedade popular. Entre elas sobressaem as procissões penitenciais da Sexta-feira Santa e a prática piedosa da “Via Crucis”, que fazem interiorizar melhor o mistério da Cruz.
Um grande silêncio caracteriza o Sábado Santo. De facto, não são previstas liturgias particulares neste dia de expectativa e de oração. Nas Igrejas há um grande silêncio, enquanto que os fiéis, à imitação de Maria, se preparam para o grande acontecimento da Ressurreição.
Ao cair da noite de Sábado Santo tem início a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”. Depois de ter abençoado o novo fogo, acende-se o círio pascal, símbolo de Cristo que ilumina cada homem, e ressoa jubiloso o grande anúncio do Exsultet. A Comunidade eclesial, pondo-se à escuta da Palavra de Deus, medita a grande promessa da libertação definitiva da escravidão do pecado e da morte. Seguem-se os ritos do Baptismo e da Confirmação para os catecúmenos, que percorreram um longo itinerário de preparação.
O anúncio da ressurreição irrompe na escuridão da noite e toda a criação desperta do sono da morte, para reconhecer a realeza de Cristo, como realça o hino paulino no qual se inspiram estas nossas reflexões “Para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho, os dos seres que estão no céu, e na terra e debaixo da terra e toda a língua proclame Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2, 10-11).
Caríssimos irmãos e irmãs, estes dias são oportunos como nunca para tornar mais viva a conversão do nosso coração Àquele que por amor morreu por nós.”
Que período sublime! Neste dias somos chamados à nos arrependermos de nossos pecados e sermos purificados pelo sangue do Cordeiro. Não deixemos essa graça passar sem gerar frutos em nossas almas!
Para meditamos um pouco mais na riqueza da Semana Santa, leiamos este SERMÃO DE SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ:
Esta semana, que o povo cristão tradicionalmente chama Santa, oferece-nos uma vez mais a ocasião de considerarmos – de revivermos – os momentos em que se consuma a vida de Jesus. Tudo o que as diversas manifestações da piedade nos trazem à memória, nestes dias, orienta-se certamente para a Ressurreição, que é o fundamento da nossa fé, como escreve São Paulo. Mas não devemos percorrer com excessiva pressa esse caminho; não devemos deixar cair no esquecimento uma coisa muito simples, que talvez nos escape de vez em quando: é que não poderemos participar da Ressurreição do Senhor se não nos unirmos à sua Paixão e à sua Morte. Para acompanharmos Cristo na sua glória, no fim da Semana Santa, é preciso que penetremos antes no seu holocausto e nos sintamos uma só coisa com Ele, morto no Calvário.
A entrega generosa de Cristo defronta-se com o pecado, essa realidade dura de aceitar, mas inegável: o mistério da iniquidade, a inexplicável maldade da criatura que se levanta, por soberba, contra Deus. A história é tão antiga como a humanidade. Recordemos a queda dos nossos primeiros pais; depois, toda essa cadeia de depravações que balizam a marcha dos homens, e, finalmente, as nossas rebeldias pessoais. Não é fácil considerar a perversão que o pecado implica e compreender tudo o que a fé nos diz. Devemos tomar consciência de que, mesmo no plano humano, a magnitude da ofensa se mede pela condição do ofendido, pelo seu valor pessoal, pela sua dignidade social, pelas suas qualidades. E o homem ofende a Deus: a criatura renega o seu Criador.
Mas Deus é Amor. O abismo de malícia que o pecado encerra foi transposto por uma Caridade infinita. Deus não abandona os homens. Os desígnios divinos previram que, para reparar as nossas faltas, para restabelecer a unidade perdida, não eram suficientes os sacrifícios da Antiga Lei; fazia-se necessária a entrega de um Homem que fosse Deus.
Podemos imaginar – para de algum modo nos aproximarmos deste mistério insondável – que a Trindade Beatíssima se reúne em conselho, em sua contínua relação íntima de amor imenso, e, como resultado dessa decisão eterna, o Filho Unigênito de Deus Pai assume a nossa condição humana, carrega sobre si as nossas misérias e as nossas dores, para acabar cravado com pregos num madeiro.
Este fogo, este desejo de cumprir o decreto salvador de Deus Pai, atravessa toda a vida de Cristo, desde o seu próprio nascimento em Belém. Ao longo dos três anos em que conviveram com Ele, os discípulos ouvem-no repetir incansavelmente que seu alimento é fazer a vontade dAquele que o enviou. Até que, indo a meio a tarde da primeira Sexta-Feira Santa, se conclui a sua imolação. Inclinando a cabeça, entregou o espírito. É com essas palavras que o Apóstolo São João nos descreve a morte de Cristo. Jesus, assumindo todas as culpas dos homens sob o peso da Cruz, morre pela força e vileza dos nossos pecados.
Devemos meditar no Senhor, ferido dos pés à cabeça por nosso amor. Com uma frase que se aproxima da realidade, embora não acabe de exprimir tudo, podemos repetir com um escritor de há séculos: O corpo de Jesus é um retábulo de dores. À vista de Cristo transformado num farrapo, convertido num corpo inerte descido da Cruz e confiado a sua Mãe; à vista desse Jesus despedaçado, poderia concluir-se que essa cena é a manifestação mais clara de uma derrota. Onde estão as multidões que o seguiam? E o Reino cujo advento anunciava? No entanto, não é derrota, mas vitória. Agora Cristo acha-se mais perto que nunca do momento da Ressurreição, da manifestação da glória que conquistou com a sua obediência.