A exaltação de Maria por Deus
Louvado seja o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Maria é Mãe de Deus! E sendo ela mãe de Deus, é mãe dos filhos de Deus. Como diz um pensamento de Santo Agostinho, “Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria Santíssima é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus.”
Neste mês de maio, estejamos ainda mais unidos à nossa boa Mãe. A ela recorramos como nossa advogada, conselheira, protetora… nossa Mãe Querida!
Meditemos um pouco mais sobre a dignidade de Maria como Mãe de Deus através destas palavras de Santo Afonso de Ligório, retiradas do livro Glórias de Maria.
A exaltação de Maria por Deus
1. Como Mãe de Deus, é Maria a criatura mais chegada ao Senhor
Necessário seria compreender quão sublime é a grandeza de Deus, para também se compreender a altura a que foi Maria elevada. Bastará, pois, somente dizer que Deus fez desta Virgem sua Mãe, para entender com isso que não lhe era possível exaltá-la mais do que a exaltou. Apropriadamente afirma Arnoldo de Chartres que, em se fazendo Filho da Virgem, Deus a colocou numa altura superior a todos os santos e anjos. Exceto Deus, ela é sem comparação mais elevada do que todos os espíritos celestes, como dizem S. Efrém e S. André de Creta. Vulgato Anselmo escreve: Senhora, vós não tendes quem vos seja igual, porque qualquer outro ou está acima, ou está abaixo de vós; só Deus vos é superior, e todos os outros vos são inferiores. É tão grande, em suma, a grandeza da Virgem, conclui S. Bernardino, que só Deus pode e sabe compreendê-la.
“Por isso ninguém se maravilhe, adverte S. Tomás de Vilanova, se os santos evangelistas, tão prontos em registrar os louvores de João Batista, de Madalena, foram tão parcos em descrever as prerrogativas de Maria. Contentam-se em dizer que ‘dela nasceu Jesus’. Baste-nos isso. Com tais palavras dizem tudo, resumem-lhe todas as excelências, sendo por isso desnecessário que as fossem descrevendo uma a uma.” E descrevê-las por quê? Maria é Mãe de Deus, e já não excede com isso a toda grandeza e dignidade que se pode exprimir ou imaginar depois de Deus? pergunta Eádmero. Igualmente conclui Pedro Celense: Dai-lhe o nome que quiserdes, de Rainha do céu, de Senhora dos anjos, ou qualquer outro título de honra, jamais chegareis a honrá-la tanto, como chamando-lhe Mãe de Deus.
É evidente a razão do exposto. Pois S. Tomás ensina o seguinte: Quanto mais uma coisa se avizinha ao seu princípio, tanto mais recebe da sua perfeição. Ora, sendo Maria a criatura mais vizinha a Deus, do mesmo Deus ela participou mais graça, perfeição e grandeza, que todas as outras criaturas. Daqui deduz o Padre Suárez a razão por que a dignidade de Mãe de Deus é de ordem superior a toda outra dignidade criada. Pois de algum modo pertence à ordem da união de uma Pessoa Divina com a qual vai necessariamente conjunta. Assevera por isso Dionísio Cartuxo, que, depois da união hipostática, nenhuma há mais próxima que a da Mãe de Deus com seu Filho. É esta a união suprema que pode ter uma pura criatura com Deus, ensina S. Tomás. S. Alberto Magno afirma que ser Mãe de Deus é a dignidade imediata depois da dignidade de ser Deus. Por isso diz que Maria não pode ser mais unida a Deus, do que foi, senão fazendo-se Deus.
A Virgem devia ser Mãe de Deus. Precisou, portanto, na linguagem de S. Bernardino, ser exaltada a certa igualdade com as Pessoas Divinas, por meio de uma quase infinidade de graças. Moralmente falando, os filhos são reputados a mesma coisa com seus pais, de modo que comuns lhes são os bens e as honras. Daí deduz S. Pedro Damião que, se Deus habita em diversos modos nas criaturas, em Maria habitou com modo singular de idoneidade, fazendo a mesma coisa com Maria. Depois exclama com aquele célebre dito: Aqui trema e emudeça toda criatura, ousando apenas contemplar a imensidade de tão sublime dignidade! Deus habita no seio da Virgem, com ela mantém a identidade de uma natureza.
2. Como Mãe de Deus, é Maria portadora de uma dignidade quase infinita Segundo S. Tomás, tendo Maria sido feita Mãe de Deus, em razão dessa união tão estreita com o Bem Infinito, recebeu certa dignidade infinita, a qual Suárez chama de infinita no seu gênero. Pois a dignidade de Mãe de Deus é a máxima que pode conferir-se a uma pura criatura. Ouçamos a explicação do Doutor Angélico: “A humanidade de Jesus Cristo podia receber de Deus maior graça habitual. Mas como assim? Porque a natureza limitada da graça, como coisa criada, é sempre capaz de aumento. Entretanto não pôde a humanidade de Cristo receber maior realce que o da união com uma Pessoa Divina. Assim a Bem-aventurada Virgem não pôde também ser constituída em maior dignidade, que ser Mãe do Infinito”. E S. Bernardino garante que o estado de sua Mãe, a que Deus exaltou Maria, foi sumo, de modo que a não pôde exaltar mais. E o confirma S. Alberto Magno: Deus conferiu à Santíssima Virgem o que há de mais alto possível para uma criatura: a maternidade divina.
Eis a razão das conhecidíssimas palavras de Conrado de Saxônia: Deus pode fazer um mundo maior, um céu mais extenso, mas não pode fazer uma criatura mais excelsa, do que fazendo-a sua mãe. Melhor que todos, porém, a própria Mãe de Deus exprimiu a altura a que o Senhor a sublimou, quando disse: Maravilhas em mim operou Aquele que é poderoso. E por que não especificou ela quais eram essas maravilhas concedidas por Deus? Maria não as expôs, responde-nos S. Tomás de Vilanova, porque são tão grandes, que não se podem explicar.
Razão teve, pois, o autor da Salve-Rainha de dizer que Deus criou o mundo por causa dessa Virgem que havia de ser a sua Mãe. S. Boaventura podia dizer que o mundo persiste por disposição de Maria. “Por vossa intercessão, ó Santa Virgem, é conservado o mundo, que no começo fundastes juntamente com Deus”. Essas palavras fazem alusão ao texto dos Provérbios, onde se lê: Estava eu com ela regulando todas as coisas (8,30). Que, por amor de Maria, Deus não destruiu o homem depois do pecado de Adão, é sentença de S. Bernardino.
Motivadamente canta, portanto, a Santa Igreja que “Maria escolheu a melhor parte”. Porquanto esta Mãe e Virgem não só elegeu a ótima parte, mas das ótimas elegeu a ótima parte. É o que no-lo atesta S. Alberto Magno: Deus dotou-a em sumo grau de todas as graças, e dons gerais e particulares, conferidos a todas as outras criaturas.
Santo Afonso Maria de Ligório
Livro: Glórias de Maria