O Espírito de Deus em Davi (Parte I)

VOCAÇÃO DE JESUS!
Deus seja amado com todas as forças de nosso coração e de nossa alma.

Capítulo 01
O CARÁTER DE DAVI, REI DE ISRAEL

O Senhor Deus chamou o Profeta Samuel e lhe disse que tinha rejeitado Saul como rei de Israel. Para seu lugar tinha escolhido Davi.

“Enche o teu corno (chifre) de óleo. Vai; envio-te a Isaí de Belém, porque escolhi um rei entre os seus filhos.”

(1 Sm 16, 1)

Na casa de Isaí, “Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi.” (1 Sm 16, 13) Por meio do Profeta Samuel, Deus oficializou Davi como rei de Israel na presença de seu pai e de seus irmãos. Para confirmar que, de fato, ele era rei, Deus enviou Seu Espírito que se apoderou de Davi.

Tendo o Espírito do Senhor se apoderado de Davi, o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e um mau espírito veio sobre ele a mando de Deus.

Deus tinha escolhido e ungido Davi como rei de Israel, mas ele não assumiu logo seu dever e direito de reinar. Davi não sentou no trono como rei por desobediência a Deus, mas porque as circunstâncias não lhe permitiam reinar segundo a vontade de Deus.

Deus, que é o Senhor administrador das circunstâncias da vida da humanidade e da vida de cada homem, não tinha providenciado que as circunstâncias se tornassem favoráveis para que Davi começasse a reinar. Davi era o rei, o Espírito do Senhor estava sobre ele para ele reinar. Saul não era mais rei, o Espírito de Deus o tinha abandonado para que ele não mais reinasse, mas aos olhos de Israel, Saul era o rei, e estava reinando, apesar de não mais ser conduzido em seu governo pelo Espírito do Senhor.

Deus age por caminhos invisíveis, estradas que parecem longas, atalhos milagrosos, passagens e portas estreitas

Deus, o soberano diretor das circunstâncias, Aquele que as cria e administra e direciona as que permite serem criadas, começou a agir sobre a conjuntura para que Saul deixasse de reinar e Davi assumisse o reinado no tempo da providência divina. Para isso, a atuação de Deus vai operando no rei que, mesmo sendo rei, ainda não reina.

Deus age por caminhos invisíveis, estradas que parecem longas, atalhos milagrosos, passagens e portas estreitas. Deus coloca Davi, como coloca cada homem, nos itinerários das circunstâncias que somente Ele conhece, pois aos homens são rumos incompreensíveis. Não podemos conhecer as direções dos objetivos divinos na administração das circunstâncias. O que podemos fazer, e devemos fazer, é confiar que Deus tudo sabe, tudo pode e tudo faz pelo bem de seus filhos.


Capítulo 02
O ESPÍRITO MAU PERTURBA SAUL

Tendo o Espírito do Senhor abandonado Saul, ele passou a ser perturbado pelo espírito mau que vinha sobre ele com impaciências e raivas incontroláveis, desânimo, vazio existencial, insônia, maus pensamentos, maldades, cegueira espiritual profunda, inveja, medo de perder o reinado, mesmo sabendo que, diante de Deus, ele não era mais rei, que Deus tinha escolhido outro homem para ser rei em seu lugar.

Vendo o estado espiritual e mental do rei…

“Os homens de Saul disseram-lhe:

– Eis que um mau espírito de Deus veio sobre ti. Que nosso senhor ordene, e teus servos aqui presentes procurarão um homem que saiba tocar harpa e, quando o mau espírito de Deus estiver sobre ti, ele tocará o instrumento para acalmar-te.

– Está bem, respondeu Saul, procurai-me um bom músico e trazei-mo.

Um dos servos declarou:

– Conheço um filho de Isaí de Belém que sabe tocar muito bem: é valente e forte, fala bem, tem um belo rosto, e o Senhor está com ele.

Saul mandou mensageiros a Isaí, para dizer-lhe: Manda-me o teu filho Davi, o pastor. Isaí tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito, e mandou esses presentes a Saul, por seu filho.

Davi chegou à casa do rei e apresentou-se a ele. Saul afeiçoou-se a Davi e o fez seu escudeiro. Mandou então dizer a Isaí: Peço-te que deixes Davi a meu serviço, porque ele me é simpático. E sempre que o espírito mau de Deus acometia o rei, Davi tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava.”

(1 Sm 16, 15-23)


Capítulo 03
A POSTURA DE DAVI

DAVI PODERIA PENSAR COM ELE MESMO:
Por que Saul ainda é rei, se Deus mandou o profeta Samuel me ungir rei de Israel?
Por que Saul está reinando? Eu é quem deveria estar reinando. Eu sou o legítimo rei.

DAVI PODERIA ORAR E DIZER A DEUS:
Senhor Deus! Vós me ungistes rei, mas todo Israel vê Saul como rei, a ele obedece como rei deles.
– Vós realmente enviastes Samuel, ou foi da cabeça dele que ele me ungiu na presença de meu pai e irmãos como rei de Israel?

Mas Davi nem pensou negativamente com ele mesmo, nem fez oração de murmuração diante de Deus. Davi confiava e temia a Deus. Sua confiança e reverência a Deus lhe impediam de pensar como pensa quem não confia e não tem o temor de Deus.

Davi via Saul como o escolhido de Deus para ser rei de Israel, por isso amava, respeitava, obedecia e era fiel a Saul, porque Saul era o eleito de Deus. Se Deus o tinha elegido, maldito era quem não amava, respeitava, obedecia e não era fiel ao rei. Esse pensamento estava fixo no entendimento e caráter de Davi.

Ninguém pode tocar no eleito do Senhor sem ficar amaldiçoado, era o pensamento de Davi.

Davi nem ousava pensar que era rei, enquanto Saul fosse rei. Jamais passou por sua cabeça articular o descrédito da reputação de Saul como rei de Israel.
Jamais pensou em dar um golpe para assumir o reinado no lugar de Saul.
Em nenhum momento, tentou puxar os israelitas para si, falando dos erros de Saul.
Nunca disse às pessoas que tinha sido ungido pelo Profeta Samuel como rei de Israel no lugar de Saul.
Não tinha inveja de Saul.
Não queria reinar no lugar de Saul às custas da deposição dele feita humanamente.
Se o próprio Deus não tira o reinado de Saul, nenhum israelita poderia tirar. Ninguém pode tocar no eleito do Senhor sem ficar amaldiçoado, era o pensamento de Davi. Sua integridade moral o fazia pensar e agir sob a luz da vontade, justiça de Deus e da sabedoria espiritual.


Capítulo 04
SAUL REINAVA SOBRE ISRAEL SEM QUE O ESPÍRITO DE DEUS ESTIVESSE SOBRE ELE

Enquanto Saul, que não era mais rei, ainda reinava, Davi vivia no pastoreio das ovelhas de seu pai, situações administradas por Deus que fortaleciam o caráter do rei que ainda não reinava. Sozinho, longe da companhia humana, tinha como companhia o Espírito de Deus.

Davi, na solidão do trabalho do pastoreio, conduzia as ovelhas pelos vales e montanhas, resistindo como homem de fibra, sem as exigências chorosas dos homens fracos ao frio da noite e ao calor do dia. Davi não era um covarde, vivia enfrentando os perigos da vida solitária na mata selvagem sem reclamações, sem pena de si mesmo, sem se sentir injustiçado porque seus irmãos estavam no exército recebendo seu salário, e ele cuidando das ovelhas de seu pai.

Para fortalecer a fé, o ânimo, a força, a coragem, o caráter de Davi, o Senhor Deus, gerenciador das situações, providenciava que ele enfrentasse perigos maiores. Por mais de uma vez, teve de lutar, dia contra leões, em outros dias contra ursos. Quando o leão ou o urso roubava a ovelha, Davi os perseguia e salvava a ovelha. O urso e o leão iam embora, mas se o atacavam, Davi, cheio do Espírito de Deus, os agarrava pela goela e os estrangulava. (cf 1 Sm 17, 34-35)

Davi não se traumatizou com seus problemas e as muitas dificuldades da vida ao relento, dia e noite. 

Davi não se traumatizou com seus problemas e as muitas dificuldades da vida ao relento, dia e noite. Não permitia a si mesmo ser um frouxo, um molenga, um inerme, um medroso. Os problemas eram desafios a serem vencidos com inteligência e bravura. A cada desafio que tinha de enfrentar, ele o enfrentava. A cada trabalho que tinha de repetir levando as ovelhas para comer e beber, ele repetia sem se reclamar da rotina. Ele não via rotina na vida natural a todo homem. Não via rotina no nascer e pôr do sol todos os dias, via o poder, a misericórdia, graça e bênção de Deus.

À noite, se agasalhava como podia para dormir; ao dormir não sentia, nem sabia que, durante seu sono, Deus trabalhava em sua alma como faz com a alma de cada homem. Na alma de Davi, o trabalho de Deus era especial devido à missão que Deus lhe tinha dado.

A cada dia, Davi ficava mais corajoso, mais forte, mais experiente, porque dava, com seu comportamento, a oportunidade e liberdade do Espírito do Senhor Deus lhe possuir mais profundamente. A cada manhã, Davi acordava um novo homem por causa do que Deus fazia em sua alma durante seu sono. Durante o dia, Deus providenciava situações para moldar seu caráter. Situações de pequena importância aos olhos humanos, mas de grande importância aos olhos de Deus pelo modo de como o homem as realiza por amor e temor a Ele.


Capítulo 05
TREINO PARA MATAR GIGANTES, PARA VENCER DESAFIOS

A providência divina enviou feras bem maiores do que Davi para que ele as enfrentasse. Leões e ursos vinham atacar as ovelhas do rebanho. Davi sabia que homens não têm mais força do que leões e ursos, a ponto de ser capazes de segurá-los e estrangulá-los com as próprias mãos. Ele via, conhecia o tamanho, peso e espessura do couro desses animais.

Um leão pesa de 190 a 230 quilos; tem de 2,70 a 3 metros de comprimento.

Um urso pesa de 180, 360 a 780 quilos; de comprimento pode ir de 1,40, 2,80, e a mais de 3 metros de comprimento.

Davi não se sentia intimidado pela ferocidade e tamanho desses animais selvagens famintos. Quando tentavam entrar no rebanho, Davi corria de um lado para outro os afugentando. Se pegavam uma de suas ovelhas, ele as tomava de volta; se uma das feras o atacava, ele a matava.

Suas lutas para salvar as ovelhas e a própria vida, enfrentando animais maiores e mais fortes do que ele, preparavam-no para, um dia, enfrentar um gigante que apavorava todo o exército de Israel.

A cada luta com os animais, em defesa das ovelhas do rebanho, mais Davi se convencia que Deus estava com ele, e ele com Deus, pois se Deus não estivesse cuidando dele, protegendo-o, fazendo-o forte na alma, mente e corpo, ele já teria morrido pelas intempéries do clima ou devorado por lobos, leões e ursos.

Na vida dura, difícil, do trabalho nas montanhas e vales, no pastoreio das ovelhas, Deus ia modelando a índole do rei que ainda não reinava. Suas lutas para salvar as ovelhas e a própria vida, enfrentando animais maiores e mais fortes do que ele, preparavam-no para, um dia, enfrentar um gigante que apavorava todo o exército de Israel. Não somente para enfrentar sozinho um grande oponente, mas para contagiar, com sua fé em Deus, Saul e todo o exército israelita que vacilavam na fé.


Capítulo 06
A CONFIANÇA ESTÁVEL DE DAVI

Um dia, quando fosse necessário, a fé inabalável de Davi iria contagiar todos os soldados que estavam com medo de um homem agigantado. A confiança estável no Deus de Israel, a coragem, iria estar estampada no rosto de Davi. Seu ânimo iria transparecer nos seus olhos. Sua presença contagiava a todos de fé e coragem.

Só Deus sabia que, um dia, seu discípulo no aprendizado de uma vida de amor e temor iria falar ao rei Saul e ao exército israelita que temiam o gigante Golias. Davi iria dizer que ninguém desanimasse, que ele iria combater o gigante, pois estava acostumado a lutar e a matar leões e ursos gigantes com suas próprias mãos. Que Deus, que lhe dava fé, destreza, coragem e força, que sempre o salvava de animais mais fortes e maiores do que ele, que sempre o salvou, o salvaria também do gigante filisteu.


Capítulo 07
DAVI NÃO SE CONTAMINOU DO MEDO NA MAIORIA

Na leitura de 1 Sm 17, vemos que Davi, ao chegar no campo de batalha, viu o exército israelita sendo desafiado por um gigante que gritava com arrogância. Viu o exército inteiro recuar tremendo de medo diante do orgulhoso e confiante homem de estatura gigantesca. Davi não se contaminou do medo na maioria. Pelo contrário, ele ficou embravecido ao ver o medo no exército. Sua fé em Deus, sua ousadia, sua coragem, seu ânimo aumentaram diante do medo, da fraqueza, da covardia, do desânimo dos homens fracos.


Capítulo 08
LUTA QUE EXIGIA A ARMA ESPIRITUAL

O rei Saul deu a Davi sua couraça, sua armadura, seu capacete, sua espada, mas Davi não era treinado pelos homens para travar a luta que iria travar. Essa era uma luta de homem contra homem, mas que deveria acontecer no Espírito de Deus.

Era uma luta que exigia a arma espiritual da fé e confiança em Deus, não da armadura e da espada dos guerreiros, nem mesmo de coragem meramente humana. As armas materiais e mentais dos homens atrapalhariam Davi, e o impediriam até de andar. Para essa luta humana travada no poder da fé e da experiência de vida em Deus, quem tinha preparado, armado e treinado no corpo, mente e alma o jovem Davi tinha sido o próprio Deus.


Capítulo 09
A BATALHA DA FÉ QUE DEVERIA SERVIR DE EXEMPLO DE FÉ

Davi se livrou das armas dos homens. Apesar delas serem necessárias em outros momentos, elas seriam inúteis para essa específica batalha. Essa era uma batalha para erguer a fé do exército, a fé de todo Israel e a fé em Deus dos homens, mulheres, jovens e crianças que iriam ouvir essa história em todos os tempos das gerações futuras.  

Davi ficou com suas roupas comuns, seu cajado de pastor de ovelhas, seu alforge, sua funda e cinco pedras, e assim foi contra o colossal homem. Os soldados do exército o olhavam ir e se perguntavam como aquele jovem partia para enfrentar, desarmado, levando apenas um bastão e uma funda, um guerreiro experiente na arte da luta de guerra, um gigante acostumado a matar homens.

Eles tinham quase que piedade de Davi, mas Davi não se via desarmado, não tinha preocupação consigo mesmo. Ele se sentia invencível, forte, poderoso e confiante, não com petulância, não nele mesmo, mas em quem ele colocava toda a sua fé e confiança. Davi confiava em Deus. Deus era a sua vitória, essa era sua certeza sem nenhuma margem de dúvida.


Capítulo 10
O ORGULHO É SINAL DE DESGRAÇA NO ORGULHOSO

Ao chegar diante do desmedido gigante, desmedido a olho nu, o próprio homem grande, vendo que Davi era um jovem, que estava desarmado, logo o desprezou e o amaldiçoou em nome de seus deuses. Zombando, disse que iria matar Davi fácil e rápido. Seu sarcasmo provinha de seu orgulho. O orgulho é sinal de desgraça no orgulhoso. O gigante confiava em si mesmo, em suas armas, confiava em sua alta estatura, confiava em sua experiência de guerreiro e em seus deuses, confiava em ter matado muitos homens.

não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do Senhor”

Ele ia contra o jovem Davi cheio de confiança, daquela confiança que se apoia em nada. Ele tinha a arrogância dos que se apoiam em coisa nenhuma, dos que, apoiando-se no que é insignificante, sentem-se confiantes. Golias confiava no que não se pode confiar, nem ele mesmo sabia ao certo em que, ou quem, confiava, pois o orgulho dos tolos cega a mente e a alma. Todo orgulhoso mira o alvo errado.

O humilde mira o alvo certo. Em sua humildade, Davi sabia perfeitamente, sabia com clareza, em quem confiava, por isso, indo contra o gigante que zombou dele, não se sentiu zombado. Ele via e sentia que o orgulhoso gigante afrontava o Deus de Israel, o seu Deus, então disse “não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do Senhor”. Assim falou, pois se sentia travando as batalhas de Deus, não as suas. Lutaria pela causa de Deus, em defesa da honra e glória de Deus, em defesa do Deus Poderoso que não precisa de proteção, mas que quer a ação da intenção dos que, amando-O, defendem-O por desejo, palavras e atitude. Vejamos como a Sagrada escritura nos narra esse episódio da história:


Capítulo 11
DAVI DERROTA O GIGANTE GOLIAS

O Senhor das circunstâncias permitiu uma situação que apavorava e até acovardava os guerreiros valentes do exército de Saul. Os filisteus vieram fazer guerra a Israel. Os dois exércitos ficaram frente a frente.

“Saiu do acampamento dos filisteus um campeão chamado Golias, de Get, cujo talhe era de seis côvados e um palmo.”

6 côvados e 1 palmo dá a Golias 2,92 metros de altura. Contudo, as variações de medida do côvado de uma região para outra dificultam a precisão na altura de Golias. Por causa das variações, presume-se que sua altura fosse 2,92, ou 3,30, ou 3,96 metros. Seja como for, Golias era um gigante que não poderia ser vencido por um homem de estatura normal, principalmente por um jovem de menos de 20 anos de idade que não era treinado como guerreiro.

O gigante Golias era menor do que o rei Og, rei de Basâ que tinha uns 4 metros de altura. Seu sarcófago tem 9 côvados de comprimento e 4 de largura (cf Dt 3, 11). Og não era da raça dos gigantes nefilins (cf Gn 6, 4), os quais morreram no dilúvio. Era um dos descendentes dos refains, raça que surgiu depois do dilúvio. Moisés os venceu em guerra e os expulsou (cf Js 12, 4; 13, 12), Apesar de seu gigantismo, e de seu poderoso exército, Og não pôde vencer Moisés e o povo de Deus. “Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31)

Golias, de quase 3 metros de altura, trazia na cabeça um capacete de bronze e no corpo uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. Tinha perneiras de bronze e um dardo de bronze entre os ombros. O cabo de sua lança era como o cilindro de um tear, e sua ponta pesava seiscentos siclos de ferro.

“Um escudeiro o precedia.

Apresentou-se ele diante das tropas israelitas e gritou-lhes:

– Por que viestes dispostos a uma batalha? Não sou eu filisteu, e vós os escravos de Saul? Escolhei entre vós um homem que desça contra mim. Se ele me vencer, batendo-se comigo, e matar-me, seremos vossos escravos; mas, se eu o vencer e o matar, então sois vós que sereis nossos escravos e nos servireis! E ajuntou: Lanço hoje este desafio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos!

Saul e todo o Israel ouviram essas palavras do filisteu e ficaram consternados, cheios de medo. O filisteu aproximava-se pela manhã e pela tarde, e isso por quarenta dias seguidos.

Um dia, disse Isaí ao seu filho Davi:

– Toma para teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães, e apressa-te a levá-los aos teus irmãos no acampamento.

Davi, confiando o rebanho a um pastor, tomou sua bagagem e partiu, como lhe ordenara Isaí. Chegou ao acampamento no momento em que saía o exército para a batalha, levantando o grito de guerra. Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, tropa contra tropa. Davi entregou sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras para informar-se de seus irmãos.

Enquanto lhes falava, eis que o campeão filisteu, Golias, de Get, avançou para fora das fileiras do seu exército, proferindo o mesmo desafio (como nos dias precedentes), que Davi escutou. Todo o Israel recuava à vista do homem, tremendo de medo. Vedes, diziam eles, esse homem que avança? Ele vem insultar Israel. Aquele que o matar, o rei o cumulará de favores, dar-lhe-á sua filha e isentará de impostos em Israel a casa de seu pai.

Davi perguntou aos que estavam perto dele:

– Que será feito àquele que ferir esse filisteu e tirar o opróbrio que pesa sobre Israel? E quem é esse filisteu incircunciso para insultar desse modo o exército do Deus vivo?

Eliab, seu irmão mais velho, ouvindo-o falar assim, encolerizou-se:

– Por que vieste aqui? Com quem deixaste tuas ovelhas no deserto? Conheço a tua pretensão e a tua má índole; foi para ver a batalha que vieste!

– Que fiz eu de mal? respondeu Davi. Nada mais fiz que uma simples pergunta!

E afastou-se de seu irmão, indo perguntar a outros, dos quais obteve sempre as mesmas respostas. As palavras de Davi foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou vir à sua presença. Davi disse-lhe:

– Ninguém desanime por causa desse filisteu! Teu servo irá combatê-lo.

– Combatê-lo, tu?!, exclamou o rei. Não é possível. Não passas de um menino e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.

Davi respondeu a Saul:

– Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, eu o perseguia e o matava, tirando-lhe a ovelha da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará ele a esse filisteu incircunciso, que insultou os exércitos do Deus vivo. O Senhor, acrescentou, que me salvou das garras do leão e do urso, salvar-me-á também das mãos desse filisteu.

– Vai, disse Saul a Davi; e que o Senhor esteja contigo!

O rei revestiu Davi com sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e armou-o de uma couraça. Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse a Saul:

– Não posso andar com isso, pois não estou habituado!

E, tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforge de pastor que lhe servia de bolsa. Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu. De seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de Davi, mediu-o com os olhos, e, vendo que era jovem, louro e de delicado aspecto, desprezou-o. Disse-lhe:

– Sou eu porventura um cão, para vires a mim com um cajado? E amaldiçoou-o em nome de seus deuses. Vem, continuou ele, e eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!

Davi respondeu:

– Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel, que tu insultaste. Hoje o Senhor te entregará nas minhas mãos, e eu te matarei, cortar-te-ei a cabeça, e darei os cadáveres do exército dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra. Toda a terra saberá que há um Deus em Israel; e toda essa multidão saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do Senhor, e ele vos entregou em nossas mãos!

Levantou-se o filisteu e marchou contra Davi. Davi também correu para a linha inimiga ao encontro do filisteu. Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na fronte, e o gigante caiu com o rosto por terra.

Assim venceu Davi o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E como não tinha espada na mão, correu ao filisteu, subiu-lhe em cima, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de matá-lo, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu campeão, os filisteus fugiram.

Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gritos de guerra, e perseguiram os inimigos até a entrada de Get e até as portas de Acaron. Os cadáveres dos filisteus juncavam o caminho desde Saraim até Get e até Acaron.

Voltando da perseguição, os israelitas saquearam o acampamento dos inimigos. Davi tomou a cabeça do filisteu e mandou levá-la para Jerusalém. Conservou, porém, em sua própria tenda a armadura de Golias”.

(1 Sm 17, 7-54)


Capítulo 12
DEUS NÃO DEIXA DE COORDENAR AS CIRCUNSTÂNCIAS

“Saul incumbiu Davi de diversas missões, e todas foram muito frutuosas. Colocou-o à frente dos seus guerreiros, e ele ganhou a simpatia de todo o povo, inclusive dos servos do rei. Voltando o exército, depois de Davi ter matado o filisteu, de todas as cidades de Israel saíam as mulheres ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tamborins e címbalos.
E enquanto dançavam, diziam umas às outras:
– Saul matou seus milhares, e Davi seus dez milhares.
Saul irritou-se em extremo, e desagradou-lhe tal coisa.
– Dão dez mil a Davi, disse ele, e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!”

(1 Sm 18, 5-8)

A INVEJA E OS PERVERSOS PENSAMENTOS DE SAUL ATRAEM O MAU ESPÍRITO

“A partir daquele dia, Saul olhou Davi com maus olhos. No dia seguinte, apoderou-se dele o mau espírito de Deus e teve um acesso de delírio em sua casa. Como nos outros dias, Davi pôs-se a tocar a cítara. Saul, que tinha uma lança na mão, arremessou-a contra Davi, dizendo: Vou cravá-lo na parede! Mas Davi se desviou do golpe por duas vezes.”

(1 Sm 18, 9-11)

QUAL O MOTIVO DE SAUL TEMER DAVI?

“Saul temia Davi, porque o Senhor estava com o jovem, e tinha-se retirado dele. Afastou-o então de si, estabelecendo-o chefe de mil homens, à frente dos quais Davi empreendia as suas expedições. Saía-se bem em todas as suas empresas, porque o Senhor estava com ele. Saul, vendo-o tão engenhoso, teve medo dele. Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque ele entrava e saía diante deles”.

(1 Sm 18, 12-16)

“O rei sentiu com isso redobrar o seu medo. Durante todo o resto de sua vida, ele detestou Davi. Cada vez que os chefes dos filisteus faziam incursões, Davi era mais bem-sucedido que todos os homens de Saul, o que deu ao seu nome grande fama”.

(1 Sm 18, 29-30)


Capítulo 13
QUANTO A SAUL, DAVI AGIA SEGUNDO SUA CONSCIÊNCIA

Davi via no semblante de Saul a inveja, o ódio, o medo de Deus tirá-lo do poder.
Via que Saul queria se livrar dele a todo custo.
Via muita maldade e os erros de Saul no governo de Israel, mas nem mesmo esses erros e maldades de Saul faziam Davi planejar um golpe para destronar Saul e assumir o reinado, uma vez que Deus mandara Samuel ungi-lo como rei de Israel no lugar de Saul. O caráter íntegro e o temor de Deus em Davi o faziam agir com o que sabia e com o que pensava.

Davi entendia que só Deus podia julgar e agir segundo seu julgamento

Davi sabia que Deus tinha ungido Saul como rei de Israel.
Davi pensava que, sendo assim, somente Deus podia tirar Saul do poder de reinar.
Que o ser humano não deve querer ter os direitos de Deus.
Que nenhum homem tinha o direito de passar por cima das escolhas e da vontade de Deus, apesar de todos os erros de Saul.
Em relação a Saul, por causa da eleição feita por Deus, Davi entendia que só Deus podia julgar e agir segundo seu julgamento. Quanto a ele, mero servo de Deus, cabia a total submissão aos desígnios divinos.


Capítulo 14
DAVI SOUBE, PELO FILHO DO REI SAUL, QUE SAUL TINHA DADO ORDENS PARA ELE SER MORTO

“Saul falou ao seu filho Jônatas e a todos os servos, ordenando-lhes que matassem Davi. Mas Jônatas, que tinha grande afeição por Davi, preveniu-o disso:
– Saul, meu pai, procura matar-te. Está de sobreaviso amanhã cedo; esconde-te. Sairei em companhia de meu pai ao campo onde estiveres. Falar-lhe-ei de ti, para ver o que ele diz, e te avisarei depois.
Jônatas falou bem de Davi ao seu pai, e ajuntou:
– Que o rei não faça mal algum ao seu servo Davi, pois que ele nunca te fez mal algum. Ao contrário, prestou-te grandes serviços. Arriscou a sua vida para matar o filisteu, e o Senhor deu uma grande vitória a Israel. Foste testemunha disso e te alegraste. Por que queres pecar contra o sangue inocente, matando Davi sem motivo?
Saul ouviu a voz de Jônatas, e fez este juramento:
– Pela vida do Senhor, Davi não morrerá!
Então Jônatas chamou Davi e contou-lhe tudo isso. Levou-o em seguida a Saul, para que ele retomasse o seu lugar como dantes. Tendo recomeçado a guerra, marchou Davi contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes uma grande derrota, e eles fugiram diante dele.”

(1 Sm 19,1-8)


Capítulo 15
SAUL QUEBRA SUA PALAVRA

“O mau espírito do Senhor, porém, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa, com a lança na mão; Davi tocava a cítara. Saul, então, arremessou-lhe a lança, procurando cravá-lo na parede; Davi desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. Davi esquivou-se e fugiu naquela mesma noite.
Ora, mandou o rei emissários à casa de Davi, para terem-no seguro e assassiná-lo pela manhã. Mas Micol, mulher de Davi, disse-lhe:
– Se não fugires esta noite, amanhã serás um homem morto.
Fê-lo, pois, descer pela janela, e ele fugiu são e salvo. Quando chegaram os enviados de Saul para prender Davi, ela disse-lhes:
– Ele está doente.
Saul mandou-os de novo, com ordem de vê-lo, dizendo:
– Trazei-mo com sua cama, e eu o matarei.
Tendo chegado os mensageiros, só encontraram na cama o terafim com uma cobertura de pele de cabra no lugar da cabeça. Saul disse a Micol:
– Por que me enganaste assim, deixando escapar o meu inimigo?
Micol respondeu:
– Porque ele me disse: deixa-me partir, senão te mato!”

(1 Sm 19,9-17)


Capítulo 16
OS HOMENS ENVIADOS PARA MATAR DAVI ENTRAM EM DELÍRIO CANTANDO LOUVORES A DEUS

“Davi fugiu, pois, e foi ocultar-se junto de Samuel, em Ramá; e contou-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E foram ambos morar em Naiot. Disseram a Saul:
– Davi está em Naiot, perto de Ramá.
Saul mandou homens para prendê-lo, mas quando viram a comunidade dos profetas em delírio, tendo Samuel à sua frente, o Espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul que começaram, também eles, a profetizar.
Contaram-no a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a cantar como os primeiros. Saul mandou um terceiro grupo, os quais também profetizaram. Então ele foi pessoalmente a Ramá. Chegando à grande cisterna de Soco, perguntou:
– Onde estão Samuel e Davi?
– Estão em Naiot, responderam-lhe, perto de Ramá.
Mas, no caminho para Naiot, assaltou-o também o Espírito de Deus, e Saul foi tomado de transes por todo o caminho até chegar a Naiot.
Despiu suas vestes, profetizando diante de Samuel e ficou assim despido, prostrado por terra durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: Está Saul também entre os profetas?”

(1 Sm 19, 18-24)


Capítulo 17
SEM MAIS SER CONDUZIDO PELO ESPÍRITO DE DEUS, SAUL É CONDUZIDO FACILMENTE PELO ESPÍRITO DO DEMÔNIO

Meses depois, disfarçando o ódio contra o escolhido de Deus, que ele já não mais controlava, Saul perguntou ao seu filho Jônatas:

“- Por que o filho de Isaí não veio comer, nem ontem nem hoje?
– Davi pediu-me com instâncias, respondeu Jônatas, para ir a Belém. Disse-me: deixa-me ir, rogo-te, porque temos na cidade um sacrifício de família, ao qual meu irmão me convidou. Se me queres dar um prazer, permite-me que vá rever meus irmãos. Por isso não veio ele à mesa do rei.
Então Saul encolerizou-se contra Jônatas:
– Filho de prostituta, disse-lhe, não sei eu porventura que és amigo do filho de Isaí, o que é uma vergonha para ti e para tua mãe? Enquanto viver esse homem na terra, não estarás seguro, nem tu nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo e traze-mo; ele merece a morte!
Jônatas respondeu ao seu pai:
– Por que deverá ele morrer? O que fez ele?
Saul brandiu sua lança para feri-lo, e Jônatas viu que a morte de Davi era coisa decidida pelo seu pai. Furioso, deixou a mesa sem comer naquele segundo dia da lua. As injúrias que seu pai tinha proferido contra a Davi tinham-no afligido profundamente. Foi ao encontro de Davi e o avisou que era melhor fugir, pois seu pai estava decidido a matá-lo.”

(1 Sm 20, 27-34)


Capítulo 18
O HORRÍVEL ASSASSINATO DE SAUL

Nem mesmo o horrível genocídio cometido por Saul contra os sacerdotes, suas famílias e dos habitantes da cidade fez Davi ir contra Saul por considerar que só Deus podia tirar do reinado quem Ele tinha colocado para reinar.

Davi foi para Nobe. Chegando à casa do sacerdote Aquimelec. Come dos pães consagrados oferecidos pelo sacerdote por ser o único pão que tinha. Pega a espada de Golias. Um espião presencia tudo.  (Cf 1 Samuel 21)

“Davi partiu dali e refugiou-se na caverna de Odolão. Seus irmãos e toda a sua família, ouvindo isso, foram juntar-se a ele. Todos os que se viam em miséria, os endividados, os descontentes, foram ter com Davi, e ele tornou-se o seu chefe. E estiveram com ele cerca de quatrocentos homens.

Dali foi Davi para Masfa, em Moab, e disse ao rei de Moab: Permiti que meu pai e minha mãe venham habitar no meio de vós, até que eu saiba o que o Senhor me reserva. O profeta Gad disse a Davi:

– Não fiques no fortim. Parte, volta à terra de Judá.

Davi partiu e internou-se na floresta de Haret. Saul foi informado de que haviam descoberto Davi e os seus. Estava o rei em Gabaa, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, tendo todos os seus familiares em redor de si. Saul disse-lhes:

– Escutai, benjaminitas: será que o filho de Isaí dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? Por que vos conjurastes contra mim? Ninguém de vós me informou que meu filho tinha feito aliança com o filho de Isaí, e ninguém se deu o trabalho de avisar-me que meu filho instigava meu servo contra mim, para armar-me ciladas, como ele o faz hoje!

Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os domésticos de Saul, respondeu:

– Eu vi o filho de Isaí chegar a Nobe, à casa de Aquimelec, filho de Aquitob. Este consultou o Senhor por ele e deu-lhe provisões, entregando-lhe também a espada do filisteu Golias.

O rei mandou chamar o sacerdote Aquimelec, filho de Aquitob, com toda a casa de seu pai, os sacerdotes que estavam em Nobe. Chegando eles à presença do rei, Saul disse-lhes:

– Escuta, filho de Aquitob!

– Eis-me aqui, meu senhor, respondeu ele.

– Por que, retomou Saul, conspiraste contra mim, tu e o filho de Isaí? Deste-lhe pão e uma espada, e consultaste Deus por ele, a fim de que ele se revolte contra mim e me arme ciladas como hoje acontece.

Aquimelec respondeu ao rei:

– Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel que Davi, genro do rei, teu conselheiro, um homem estimado por toda a tua casa? Foi porventura hoje que comecei a consultar Deus por ele? Longe de mim (qualquer ideia de revolta)! Não impute o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! Teu servo nada soube de tudo isto, nem pouco nem muito.

O rei disse:

– Tu morrerás, Aquimelec, tu e toda a tua família!

Dirigindo-se aos guardas que o cercavam:

– Ide, disse ele; matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de Davi: sabiam de sua fuga e não me preveniram.

Mas os guardas do rei se recusaram a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor. Então o rei ordenou a Doeg:

– Vamos, fere-os.

E Doeg, o edomita, aproximou-se e foi ele quem matou os sacerdotes. Massacrou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam o efod de linho. Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nobe: homens, mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas. Só escapou um filho de Aquimelec, filho de Aquitob, chamado Abiatar, que se refugiou junto de Davi.

Abiatar anunciou-lhe que Saul tinha massacrado os sacerdotes do Senhor. Davi disse-lhe:

– Eu bem suspeitava naquele dia que, estando ali Doeg, o edomita, ele iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. Fica comigo; não temas. Aquele que odeia a minha vida, odeia igualmente a tua. Junto de mim estarás seguro”.

(1 Sm 22)


Capítulo 19
MAIS UM APRENDIZADO, DAVI LIBERTA UMA CIDADE QUE PODERIA LHE TRAIR

“Disseram a Davi:

– Os filisteus estão atacando Ceila e pilhando as eiras.

Davi consultou o Senhor:

– Devo ferir os filisteus? O Senhor respondeu: Vai; tu os ferirás e libertarás Ceila.

Os homens de Davi, porém, disseram-lhe:

– Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Ceila contra as tropas dos filisteus?

Davi consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu:

– Vai; desce a Ceila, porque entrego os filisteus nas tuas mãos.

Davi foi para Ceila com os seus homens e atacou os filisteus, tomando-lhes o gado e infligindo-lhes uma grande derrota. Assim libertou os habitantes de Ceila.

Saul foi informado de que Davi se encontrava em Ceila, e disse:

– Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi encerrar-se em uma cidade com portas e ferrolhos.

O rei convocou todo o povo às armas para descer a Ceila e sitiar Davi com sua tropa. Mas Davi, sabendo que Saul maquinava perdê-lo, disse ao sacerdote Abiatar: Traze o efod! E ajuntou:

– Senhor, Deus de Israel, vosso servo sabe que Saul pretende penetrar em Ceila para destruir a cidade por causa de mim. Será que os habitantes de Ceila me entregarão nas suas mãos? Saul descerá como o vosso servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, fazei-o saber ao vosso servo.

O Senhor respondeu:

Davi ajuntou:

– Ele descerá.

– Os habitantes de Ceila entregar-me-ão a mim e a meus homens nas mãos de Saul?

O Senhor respondeu:

– Entregarão.

Então Davi partiu precipitadamente com a sua tropa, em número de aproximadamente seiscentos homens, e saíram de Ceila, marchando ao acaso. Saul, informado de que Davi deixara Ceila, renunciou à expedição.

(1 Sm 23, 1-13)


Capítulo 20
CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE DEUS DEIXA PARA AGIR NO ÚLTIMO MOMENTO

“Davi permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos e habitou no monte do deserto de Zif. Saul procurava-o sem cessar; mas Deus não o entregou nas suas mãos.

Alguns zifeus subiram a ter com Saul em Gabaa, e disseram-lhe:

– Davi está escondido entre nós no fortim de Horcha, na colina de Haquila, à direita do deserto. Desce, pois, ó rei, já que tanto o desejas, e nós nos encarregamos de entregá-lo nas tuas mãos.

– Que o Senhor vos abençoe, respondeu Saul, porque vos compadecestes de mim. Ide, informai-vos diligentemente, e procurai saber o lugar onde ele se encontra, ou se alguém o viu, porque me foi dito que ele é muito astuto! Explorai e descobri todos os seus esconderijos, e voltai a mim com notícias seguras, a fim de eu ir convosco, pois se ele estiver na terra, eu o descobrirei entre a multidão de Judá.

Saul partiu com seus homens à sua procura. Mas Davi, informado disso, desceu à Rocha e permaneceu no deserto de Maon. Saul o soube e foi persegui-lo ali. Saul ia por um flanco da montanha, e Davi com os seus pelo outro, em fuga precipitada para escapar de Saul. No momento, porém, em que Saul com seus homens iam apoderar-se de Davi e sua gente, veio um mensageiro anunciar ao rei:

– Vem depressa; os filisteus entraram na terra.

Saul abandonou a perseguição e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rocha da Separação”. 

(1 Sm 23, 14-28)

Com a permissão de Deus, próxima semana daremos continuidade à nossa meditação.


Deus, que é bom, misericordioso e poderoso, abençoe-nos a todos.
J.V.

3 comentários sobre “O Espírito de Deus em Davi (Parte I)

  1. Hoje foi a história de David, lealdade e fidelidade fé confiança e perseverança nos caminhos que Deus escolheu e destinou para ser rei.que Deus nos dê a graça da perseverança e de ser fiel até o céu. Amém.

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